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Um grande contingente de pessoas saudáveis do ponto de vista clínico e laboratorial recorre diariamente a hospitais, consultórios e prontos-socorros, “queixando-se” de doenças graves. Inconformados com médicos e exames que indicam a inexistência de qualquer problema de saúde, muitas dessas pessoas recorrem à avaliação de outro profissional, na expectativa de encontrar o diagnóstico sobre o mal de que supostamente padecem. A procura será em vão e aí pode estar o indício de uma doença real, embora essa ainda não seja imaginada pelo paciente. Trata-se da hipocondria ou a ‘mania das doenças’, como é mais conhecido o mal que se caracteriza pela supervalorização de sintomas corriqueiros e perfeitamente normais.
Principais sintomas do hipocondríaco:
-Grande sensibilidade para identificar movimentos, barulhos e outros sinais do corpo que passariam despercebidos para a maioria das pessoas.
-Dar importância demais a qualquer sinal físico ou dor.
-Impressão de que qualquer dorzinha ou desconforto é sinal de doença grave.
-Tomar remédios com freqüência, sem prescrição médica.
-Ter necessidade de consultar vários médicos, apesar de vários deles terem feito o mesmo diagnóstico com base nos resultados dos exames.
-Viver com a suspeita constante de ser portador de alguma enfermidade grave.
-Atitudes e emoções podem influenciar na manifestação da hipocondria.
-Desconfiança permanente em relação às condições gerais da saúde.
-Medo constante de morrer.
-Estados frequentes de profunda ansiedade, tristeza ou depressão.
-Compulsão por conversar com pessoas doentes para comparar sintomas e mal-estares.
-Sensação de segurança ao tomar remédios, mesmo sem a presença de sintomas.
Sensação permanente de insatisfação, carência e desatenção.
-Negativismo e queixas constantes em relação à vida.
Tratamento/Cura
O tratamento é difícil porque uma pessoa com hipocondria está convencida de que tem algo gravemente alterado no seu corpo. Tranquilizá-la não alivia essas preocupações. No entanto, uma relação com um médico atento torna-se benéfica, sobretudo se as visitas regulares se acompanham de uma atitude tranquilizadora para o doente.
Dependendo da gravidade do caso é aplicado um determinado tratamento, por isso a urgência em procurar um especialista. Quando o psiquiatra ou psicólogo descobre que a disfunção está associada a algum tipo de depressão, pode combinar a psicoterapia com o uso de medicamentos anti-depressivos.
Mesmo quem não sofre de hipocondria pode ficar mais sensível às alterações que ocorrem no organismo e se impressiona com elas em algum momento da vida. São episódios breves, que provavelmente estão relacionados com oscilações de humor ou dos níveis hormonais. As mulheres estão mais sujeitas a esse tipo de comportamento durante a menstruação ou no período que a antecede, quando ficam supersensíveis.
Pesquisas recentes sugerem que as pessoas que sofrem de hipocondria têm comparativamente à população geral, não só um nível de sensibilidade às sensações corporais mais elevado, bem como uma tolerância mais baixa aos sinais de desconforto físico, pelo que desenvolvem uma atenção “especial” para tudo o que se relaciona com o seu corpo. A estes factores vem-se juntar ainda a interpretação errada e catastrófica das sensações corporais e das pequenas mudanças do corpo.
Relato de um caso verídico e depoimentos
Esta perturbação, considerada crónica, provoca por vezes problemas familiares e sociais, porque o hipocondríaco desvia a sua atenção do meio ambiente para si próprio. Ele passa a viver num estado permanente de escuta, mas de si próprio e desconfia de cada sensação nova que tem no seu corpo. Um dos passos mais importantes para iniciar o processo de cura é reconhecer a verdadeira doença.
Não é possível quantificar o número exacto de hipocondríacos, mas sabe-se que é uma perturbação frequente entre os doentes que recorrem aos cuidados de clínica geral — estima-se que entre 4 % e 6 % da população. Muitas vezes a hipocondria coexiste e é mascarada por outras doenças psiquiátricas, como a depressão. Ironicamente, os hipocondríacos tendem também a apresentar mais sintomas físicos e disfunções de órgãos, desta vez reais, do que a população geral.
Para se poder afirmar que determinada pessoa é hipocondríaca, deverá apresentar esta perturbação durante pelo menos seis meses.
A hipocondria pode surgir subitamente sem nenhum desencadeante identificado, e ser estável ao longo do tempo, ou manifestar-se em sequência de um período mais vulnerável. «A hipocondria surge muitas vezes em pessoas que sofreram uma doença orgânica durante a infância ou que contactaram durante muito tempo com familiares doentes, sobretudo, se houve um desfecho fatal», explica Ilda Vieira Murta, psiquiatra no Hospital Sobral Cid, em Coimbra. «Outros factores são os desapontamentos, as rejeições, as perdas, o stress, a ansiedade, e a própria personalidade do doente, com traços de baixa auto-estima, introversão e obstinação.»
A teoria que encontra mais apoio nas investigações já realizadas, sugere que a hipocondria resulta de um aumento das sensações corporais normais e de um desvio da atenção do indivíduo, que parece estar «desligado» do exterior e estar selectivamente atento aos seus sintomas corporais mínimos, amplificados, que são encarados como sinónimos de doença. «O hipocondríaco vive num estado de permanente escuta, desviando a sua atenção do meio ambiente para si próprio e olhando de modo alarmista e interpretando erradamente cada sensação nova no seu corpo»,
A evolução desta doença é crónica e desgastante, com episódios que duram meses ou mesmo alguns anos, seguindo-se períodos de acalmia, podendo surgir novos episódios na sequência de acontecimentos negativos de natureza psicológica ou social. «Nas alturas em que está activa, a doença traz sempre intensa ansiedade e sofrimento, perturbando grandemente a vida do indivíduo», acrescenta.
Fontes: